O Eco da Doninha

Este e-space foi criado com o intuito de mostrar de como as pequenas coisas insignificantes podem encerrar verdades ainda mais insignificantes. Isto é um eco, pois qualquer resposta dada não tem mais qualidade que a pergunta feita.

quinta-feira, junho 30, 2005

A Força Emergente

Crónicas do Metro

Parasita

do Lat. parasitu

s. 2 gén., organismo que vive à custa de outro (o hospedeiro); pessoa acostumada a comer em casa de outrem; por ext. pessoa que vive à custa de outrem;
adj. 2 gén., que vive à custa alheia.

"Pois é, meus amigos, a pedido de várias famílias de bem temos o regresso das Crónicas do Metro.
Bem, na realidade foram apenas dois pedidos, dos Cunha de Alcoitão e dos Sousas de Murça.
Apesar de quando telefonei aos Sousas, às 4e32 da manhã, a perguntar se eles não adorariam o regresso das crónicas, não percebi muito bem o que o senhor Sousa disse (se ele não dissesse tantos palavrões...), mas pareceu-me ouvir um "sim" abafado antes dele desligar..."

Como referi na primeira edição das Crónicas do Metro, o Metropolitano de Lisboa é pródigo em vários tipos de fenómenos vou continuar a insistir naquele que é o do "Dê-me lá uma esmolinha, faxavor...".

Por incrível que pareça, ou talvez não, não só as pessoas com deficiências que recorrem a esta forma de vida, existe uma facção que começa a ganhar força e a assumir-se como a grande potência controladora deste fenómeno...
Essa facção é a facção dos "Washed-up artists", ou seja, aqueles que por alguma infelicidade ou injustiça tremenda falharam no primeiro casting (e alguns já no segundo) do Ídolos.
Estes indivíduos são facilmente identificáveis pois todos possuem um objecto que os denuncia imediatamente, como os óculos escuros nos agentes do FBI...

Esse objecto, já intimidante para muitos, é o Acordeão.
Antigamente as pessoas fugiam das carruagens assustadas quando alguém sacava da naifa ou da fusca, agora vivemos na era do:

"Fujam, que ele tem um acordeão!".

Mas ja não sendo esta uma arma por si so terrível na arte do "um euro pela minha música", alguns começaram a desenvolver "armas" mais complexas, mas sempre com o acordeão como base, claro.

Vejamos...

A primeira arma, é a presença física.
Um deles é impressionante, um indivíduo loiro, 1m90, 102 kg (sem o acordeão).
Qual será a resposta a dar a um "animal" destes?
É obvio..."Cla, Claro, tome, tome lá, Herr Gunter..."

A segunda arma, o uso de animais.
São muito os que recorrem ao uso animais empoleirados nos ombros enquanto dão azo ao seu talento musical, ao bom estilo Quim Barreiros.
Para ja não passam de chiuauas ou chimpanzés, mas que garantias nos dão estas pessoas que não vão evoluir para um pitbull ou um gorila do Congo?

Finalmente, aquele que eu penso que será o soldado de elite do grupo...
Um individuo que para além do acordeão, usa um trolley com 2 colunas "AIWA" e um sintetizador "FUJITSU", que lhe proporciona acompanhamento musical extra.
Primeiro que tudo, tenho que dar o meu louvor a este homem pela forma como tem resistido aos ataques ferozes da "SAMSONITE" para adquirir os direitos do trolley.
E não fosse isto tudo suficiente, a sua música de eleição, que é sem duvida um ataque devastador, é a "La Bamba".

Haverá alguém que fique indiferente a isto?

Esperemos apenas que ele nunca se lembre de tocar o "Guantanamera", porque aí seria mesmo o princípio do fim da nossa estabilidade financeira...

Sempre ouvi a frase "Dê uma esmola, ajude os necessitados que não têm hipótese de levar uma vida normal", logo vamos prestar atenção ao "NÃO TÊM HIPÓTESE".

Por isso....Óscar, conta com o meu euro.

terça-feira, junho 21, 2005

They're out there

Se nos indagarmos o porquê da nossa evolução tecnológica (atenção, por favor, não confundir com o choque tecnológico, esse é o próximo patamar) facilmente chegamos à conclusão que se deve a uma e só a uma coisa, a curiosidade inata do homem para explorar o desconhecido.

Mas, provavelmente, um dos maiores "flops" da humanidade nesse campo é a tentativa de provar a existência de vida inteligente para além das nossas fronteiras espaciais.
Penso que a procura por inteligência extraterrestre surja da necessidade de uma rápida resolução de uma grave crise interna a esse nível.

Mas, infelizmente, devido à incapacidade de encontrar provas científicas, conseguimos fabricar umas bem melhores, através do cinema.
Existem imensos registos cinematográficos sobre vida extraterrestre, mas todas falham num aspecto... as pseudo-criaturas são retratadas sempre da mesma forma.
Não estou a falar da mesma cabeça bicéfala em forma de maçaneta ou do típico terceiro corno nasal usados em todos os filmes, mas sim das criaturas, na própria película, não possuírem traços característicos. Basicamente é impossível distinguir o Quim Alien do Gusto Alien.

Mas porque razão os realizadores não personalizam as suas criaturas (ou como diria um emigrante português na suíça, "alien tuning")?

A única ideia que me ocorre para tal facto é a tentativa de animalizar as supostamente criaturas inteligentes, dando a ideia que em caso de confronto físico estas criaturas estariam sempre em vantagem, criando a ideia de caça em grupo, ao bom estilo das abelhas, leões e das codornizes vermelhas.

A questão preocupante é que parece a nossa raça se rendeu a esta ideia do não-individualismo...

Nas cidades, são os executivos da TMN com os seu fatos de riscas à lá mafioso de Palermo, com a camisa branca e gravata verde. Mas claro, devido às leis da concorrência, os executivos da Vodafone usam gravata laranja.
Temos que dar mérito ao sector das operadoras de rede móvel pela forma como resistem a este fenómeno da não-individualização.

Nas aldeias, desde do Sr. Aníbal do talho "Em carne viva" até ao Sr. Henriques da mercearia "Tudo fresco", todos usam a mesma calça castanha acompanhada da meia amarelo torrado (que infelizmente substituiu a branca com as raquetes verdes cruzadas), com a sua barriga proeminente apenas coberta pela camisa branca com listas verticais azuis, que apenas tem um pouco de espaço no bolso para comportar o maço de Português Suave e a caneta do "Café Central".

Será que isto tudo não passa de uma manobra inteligente criada para tentar impedir uma invasão extra-planetária, através de uma grande demonstração de força de grupo, ou apenas estaremos cada vez mais a ceder às regras e padrões impostos por um realizador que ninguém conhece mas todos adoram?

Talvez seja mesmo necessário descobrir vida inteligente para responder a esta questão?

quarta-feira, junho 15, 2005

Um visionário ou membro de um sindicato organizado?

Crónicas do metro

"It is by acts and not by ideas that people live" - Anatole France

O metropolitano de Lisboa é um verdadeiro viveiro de ecos.
Devido às inúmeras viagens que faço neste transporte tão divertido e acolhedor, comecei a reparar que para além de ser usado pelos lisboetas para transporte (como é óbvio) ou para sentir algum aconchego nas horas de "ponta" (não existe maldade nem luxúria, é só solidão e falta de afecto), uma pequena percentagem da população usa-o para pedir esmola, sendo os invisuais os que mais recorrem a esta prática.

Há uns tempos atrás um indivíduo (a quem eu vou chamar Óscar porque é extremamente parecido com o meu primo Afonso) prendeu a minha atenção pela forma como pedia esmola:

"Faça o favor de me auxiliar com a sua esmola. Com a sua esmola, faça o favor de me auxiliar".

Não sei se foi o trocadilho frásico complexo que ele desenvolveu ou facto de ele pedir por favor (pois como já dizia o outro, "com gente educada é outra coisa"), o que é certo é que o Óscar lá conseguia angariar um bom pecúlio.
Fui assistindo a esta cena dia após dia, até que vi uma senhora, também invisual, a usar o mesmo pregão....

Teria sido coincidência ou será que ela se tinha apercebido do sucesso do Óscar?

Após várias noites sem dormir a matutar neste dilema, finalmente, o meu esforço mental foi recompensado. Afinal não eram apenas esses 2 que usavam essa frase mágica, mas sim TODOS os invisuais que circulam no metropolitano. Perante tal cenário, sorri, afinal não era coincidência, mas rapidamente o sorriso se esbateu.

Subitamente, as minhas dúvidas ganharam outra dimensão....
Se não se tratava duma coincidência, porque razão todos conheciam e usavam o mesmo miraculoso "abracadabra" para abrir as nossas carteiras?

Seria o Óscar de facto um pioneiro ou existiria um sindicato onde eram acordadas todas as normas de comportamento no metropolitano?

E mais uma vez a justiça do metropolitano foi rápida a dar a sua sentença.
O Óscar deixou de ter tanto sucesso, com o passar dos dias a esmola começou a escassear e o sindicato não interveio para auxiliar o pobre Óscar.

Ele era realmente de facto um visionário que viu a sua ideia explorada e acabou sem nada...

terça-feira, junho 14, 2005

Azambugal

Na zona de Lisboa, a CP tem um conjunto de linhas ferroviárias.
A linha de Cascais é conhecida por ser a linha dos meninos ricos de Cascais (reparem como os nomes coincidiram).
A linha de Sintra é conhecida pela violência que existe nas carruagens que ali circulam.
A linha do Sado é conhecida pela beleza do rio e por passar em frente á casa do Toy.
E finalmente, a linha da Azambuja.
Ninguém quer saber desta linha, não é linha dos ricos, nem dos criminosos e muito menos dos estupidamente apaixonados. As suas estações nem sequer têm fama de ter lojas de pastelaria fina ou drogarias que vendam pregos de cabeça chata.
É, infelizmente, um claro exemplo de banalização entre os seus pares...


Mas algo começa a preocupar-me...
Sempre que vejo um filme ao bom estilo viagem "cross europe", aparece o típico mapa com o percurso dos indivíduos. Até aqui tudo bem, a não ser que apareça um aviãozito a deixar um rasto vermelho, talvez o novo modelo da Boeing movido a groselha, mas o que realmente me perturba é a chegada aos países, "todos" tem os seus pequenos ícones que os identifica...

Ora vejamos, a Espanha tem as touradas, a França tem a torre Eiffel (apesar de achar que a petit-baguette os identifica melhor), a Inglaterra tem o Grande-Ben, os Alemães as salsichas e a cerveja (estes sem dúvida que na cerimónia de atribuição de ícones foram os primeiros a escolher), etc., etc. e tal...

A questão é, e nós temos o que, afinal?!

Cerca de 80% da população activa, ou seja indivíduos acima dos 60 anos, diria o Fado.
Pois, mas a verdade é esta, o fado foi uma desculpa criada por um conjunto de marialvas para se renderem aos belos prazeres do álcool, nada mais. Chegava sexta-feira e a desculpa usada era "o Zé Quintas vai de fim-de-semana vamos lá fazer um jantar de despedida!" e isto evoluiu para "E se fossemos a uma casa de fados, é cultura e bebemos um copito?".

Será então o Futebol?

Isso é simples de ver que não, resumindo numa palavra e num mau jogador, Pauleta.

Será, por acaso, o Eusébio e a Amália?

Só se forem as lontras do oceanário, porque já ninguém se lembra dos seus homónimos humanos.

Decidamente, nada "disto" pode ser usado como o nosso ícone, pois nada "disto" reflecte o verdadeiro espírito português.

Portanto, meus amigos, sempre que falarem com alguém que não seja do nosso país (sim, madeirenses e açorianos incluídos) e vos perguntarem:

"O que é que identifica melhor o vosso país?" (isto dito em estrangeiro, como é óbvio).

A resposta é extremamente simples...

A linha da Azambuja.