Give me an I, Give me a Q...

Ao entrar num café nortenho é curioso verificar que existe sempre alguém dedicado a um passatempo retirado directamente das páginas do JN e realizado na mesinha redonda do canto sempre acompanhado do elucidativo cigarro.

O interessante neste fenómeno é observar a evolução desse passatempo ao longo dos tempos.
Em tempos idos, as Palavras Cruzadas eram governantes no reino do ócio, mas acabaram por ser um pouco ostracizadas, talvez pelas pessoas terem eventualmente decorado o símbolo químico do Ouro ou talvez por um sentimento de apoio às diagonais invertidas, devido a estas não terem sido incluídas (com grande injustiça diga-se) neste passatempo.

O substituto das Palavras Cruzadas, o passatempo do momento, é o SuDoku.
Não vou explicar no que consiste pois já é sobejamente conhecido, mas é um jogo que substitui a cultura geral pelo raciocínio lógico...

No sul também se verifica este fenómeno dos passatempos, mas tem umas variantes bastante interessantes... Este fenómeno atinge a sua expressão máxima, não num café, mas sim nos transportes públicos.
É impressionante a quantidade de pessoas que guardam religiosamente o recorte do jornal com o seu passatempo predilecto para se deliciarem nas horas mortas de espera pelo seu transporte.

O que me chamou a atenção neste cenário foi a escolha do passatempo pela maior parte das pessoas...
O passatempo não passa pelo SuDoku, muito menos pelas Palavras Cruzadas, mas sim um passatempo divertidíssimo que de tempos a tempos surge nas recônditas páginas dos jornais, e não estou a falar das crónicas do Miguel Sousa Tavares...

Então que passatempo popular será este?
Bem, para os menos católicos e que procuram religiões ditas alternativas nos jornais devem ter-se cruzado, nessas páginas, com entidades como Professor Karamba, Mestre Bambu, Dom Duarte Pio, etc. ...
Mas neste aglomerado de sapiência existe uma senhora que destoa um pouco, talvez devido à sua tez pálida, no meio destes ícones de ébano...

Essa senhora chama-se Maria Duvall.

Para quem não conhece, esta mente genial desenvolveu um jogo que dá pelo nome de "Quadrado do Ouro". Rezam as crónicas que quem resolver este jogo terá a felicidade eterna no plano monetário, do amor e da saúde...
Porém, este jogo não é nada mais nada menos que uma Sopa de Letras!
Sim, uma Sopa de Letras, esse jogo genial e de dificuldade extrema, que esteve para ser inventado pelo Sr. Rubick, mas cujo intelecto não foi suficiente para o desenvolver e teve que se contentar com o "Cubo Mágico", não tão intelectualmente estimulante e indubitavelmente mais simples, mas igualmente divertido...

Há uns dias vi uma jovem audaz que tentava ser feliz...
Enquanto se esforçava para completar o "Quadrado de Ouro", lançava-me olhares de desespero e abanava com cabeça como tomando consciência que talvez tenha sido um pouco imprudente ao tentar realizar um desafio que apenas está ao alcance do mais brilhantes.

Porém, tenho que lhe reconhecer valor pois quando finalmente desistiu apenas lhe faltava uma palavra...
Por acaso reparei que a dita palavra, "amor", estava numa das diagonais invertidas, mas não disse nada por que não queria deitar por terra o mito do "Quadrado de Ouro". Mas acabei por me arrepender por que nunca tinha visto uma cara de tanto desgosto devido ao fracasso...

Perante isto so podemos concluir uma de duas coisas:

Alguém que fica assim tão frustrado por não conseguir acabar o "Quadrado de Ouro" ou é porque a imensa fé que tem nos seus poderes de algum modo lhe tolhe o raciocínio ou então é por que pura e simplesmente não tem muito jeito para este tipo de passatempos...

De qualquer das formas, acho que a solução para os problemas destas pessoas passa mesmo pelo "Quadrado de Ouro", para tal basta mergulharem na Sopa de Letras e encontrar as duas letras que realmente lhes fazem falta...

Um Q e um I...